Setembro, e o Peso do Silêncio
- neuronapis
- 13 de set.
- 2 min de leitura
By Paulo H. A. Oliveira

Quantas despedidas invisíveis cabem dentro de um sorriso comum? Não é uma hipótese distante. É estatística. É realidade.
O suicídio continua sendo uma das principais causas de morte entre jovens adultos no mundo. Atrás de cada número, há uma história interrompida, um futuro que poderia ter sido diferente se tivesse encontrado cuidado, presença ou até mesmo um simples gesto atento no caminho. A ciência nos lembra que o suicídio nunca é fruto de uma causa única: envolve desarranjos neuroquímicos, fraturas sociais, memórias de silêncios e o peso insuportável da solidão.
E, ainda assim, falhamos. Falhamos não apenas porque as políticas públicas são frágeis ou os recursos são escassos, mas porque muitas vezes escolhemos não ver. Passamos diariamente ao lado de pessoas, trocamos palavras educadas, mas raramente ousamos perguntar o que realmente está por trás de um sorriso. Confundimos rotina com resiliência, aparência com proteção.
E a pergunta insiste: quanto sofrimento se esconde à vista de todos?Quantas vidas poderiam ser salvas se ousássemos perguntar, e ousássemos permanecer?
A neurociência nos fala de circuitos em desordem. A psicofarmacologia oferece recursos para estabilizar tempestades. A inteligência artificial começa a prometer a detecção precoce de sinais. Mas nada disso significa algo se esquecermos o mais fundamental: a vida não se sustenta apenas em algoritmos. Ela se sustenta em vínculos, em presença, no ato frágil e poderoso de escutar.
Setembro não pode se reduzir a uma cor no calendário. Precisa ser uma ruptura, um lembrete incômodo de que a prevenção é tarefa coletiva. Salvar uma vida não é apenas função da clínica ou da pesquisa — é também o gesto de um amigo que demora mais um segundo, de um estranho que decide perguntar, de uma sociedade disposta a reconhecer que vulnerabilidade não é fraqueza, mas humanidade.
Que este setembro não passe como todos os outros. Que permaneça, ecoando muito além do mês. E que, ao perguntar a alguém “Você está bem?”, estejamos prontos não apenas para ouvir a resposta, mas para carregá-la com ele pelo tempo que for necessário.


Uma temática extremamente necessária e sempre atual. Parabéns pela sensibilidade!